A estrutura amorfa e labiríntica da Boneca de Kokoschka é certamente exigente. O polímata português Afonso Cruz apresenta uma série de histórias e temas paralelos e tangenciais que impulsionam, depois desviam e finalmente restabelecem o impulso da narrativa. Esta é a história de duas famílias de Dresden, abrangendo o século XX e dois continentes, mas na verdade é mais uma exploração de ideias para as quais as personagens são uma cifra. A intenção do autor expressa-se numa prosa fragmentária; reexaminando constantemente temas de diferentes ângulos até que a narração sobreposta cria habilmente uma clareza de perspectiva. A percepção é uma obsessão deste romance; Cruz oferece ao leitor múltiplas maneiras de ver eventos e pessoas, questionando a verdade de qualquer ponto de vista.